Ultrapassada a quadra natalícia e com o novo ano à porta, é tempo de falar no futuro.
No último texto falei-vos dos mais jovens e da sua importância para o projecto. Hoje é um bom dia para conversarmos como adultos.
Desde que surgiu a ideia de dar um fundo empresarial ao Criar Raízes, tenho desenvolvido esforços no sentido de procurar meios de negócio que sejam rentáveis e sobretudo sustentáveis e aplicáveis à nossa região.
Assim, apresento-vos hoje os caminhos que gostaria de seguir.
Em primeiro lugar a agricultura.
Como bom rapaz do campo, tenho uma ligação bastante próxima com a terra. Desde cedo fui habituado a conviver com ela e, com o tempo, mesmo esta cabeça dura foi aprendendo alguma coisa sobre como a trabalhar. Os meus pais têm os seus pedaços de terra e neles temos vindo a colher parte do nosso sustento. Lá em casa colhe-se de tudo um pouco: batatas, milho e feijão, cenoura, tomate e cebola, maçãs e morangos e até malaguetas. A lista é, felizmente, bastante extensa.
Confesso que, quando era mais jovem, o trabalho na terra suscitava-me alguma repulsa. É um trabalho sujo, cansativo e, para um teenager com sonhos de grandeza, tal coisa a que aparentemente só os "velhos" se dedicam parecia-me muito pouco "fixe". Com certeza não seria um punhado de feijão verde que me faria popular junto das miúdas lá da escola.
Felizmente com o tempo fui crescendo, mais em espírito do que em altura e, sem dar por isso, a minha visão começou a alterar-se. Nas longas temporadas em Coimbra, dominava um estilo de vida agitado, marcado por épocas de exames frustrantes em que a rotina cama-cadeira-cama e a alimentação desregulada típica destas alturas em nada contribuía para o meu bem-estar.
Foi algures por esta altura, numa daquelas manhãs de Verão em que a minha mãe me arranca da cama antes de ir trabalhar e me informa de forma imperativa que pretende ter a horta regada antes das 9 da manhã que algo mudou. A brisa matinal, a terra molhada, o sol agradável que se sabe virar abrasador umas horas mais tarde, a sensação de ver algo crescer, o ar puro e o silêncio apenas interrompido pelo chilrear dos pássaros é revigorante. Terapêutico até! Sem dar por ela, uma tarefa enfadonha passou a ser uma actividade bem-vinda.
A terapia, científica ou não, é uma das virtudes da agricultura. Mas e a nível económico? Os benefícios para a minha família são significativos. E isto é dizer pouco. Dou o exemplo de uma planta que a minha mãe tem num vaso no meio de uma série de flores. A pequena planta não destoa, apresentando durante meses uma série de diminutos frutos em tonalidades de verde, preto e violeta antes de ficarem vermelhos. Falo das malaguetas, criadas tão facilmente como qualquer planta decorativa. Uma curta pesquisa diz-me que, numa grande superfície, o seu preço ultrapassa os onze euros por kilo.
Onze euros.
Um pequeno exemplo numa lista que vai bem além do que já mencionei há pouco.
E porque falamos de virtudes, não podia deixar de mencionar que tudo isto é criado de forma completamente natural, ou seja, é agricultura biológica.
Como já devem ter deduzido, um dos caminhos que pretendo seguir é o da agricultura biológica.
É certo que tenho consciência de que a produção para consumo próprio e para comércio são coisas completamente diferentes, bem como tenho a noção de que dificilmente se cria um negócio rentável através de agricultura de minifúndio. Assim, perguntam vocês, que tenho eu de novo para oferecer?
E eu respondo-vos que tenho criatividade.
A agricultura biológica, embora altamente valorizada, não é por si só suficiente. É preciso saber o que o mercado quer e quando o quer, aproveitar os produtos da terra, sempre, mas estar aberto a novas experiências. Falo de culturas mais rentáveis, capazes de se adaptar aos solos e ao clima, produtos compostos e especializados, novas formas de agricultura: urbana, orgânica, inteligente. Tudo isto são questões por explorar e que podem servir os interesses do projecto.
Como o texto já vai longo, num futuro próximo espero falar-vos de outros dois caminhos que gostaria de seguir: o turismo e o artesanato. Dois lugares comuns, eu sei.
Mas afinal, não sou eu uma caixinha de surpresas?
Bom ano novo a todos!